Sergio Ramos volta a Sevilha - Desportoexclusivo



Sergio Ramos volta a Sevilha

O defesa, de 37 anos, saiu há 18 do clube andaluz e sempre que voltava ao Sánchez Pizjuán, com a camisola do Real Madrid, foi assobiado e insultado. Depois de 16 anos no gigante da capital espanhola e outros dois no PSG, Sergio Ramos terá recusado os cifrões da Arábia Saudita e está de regresso ao ponto de partida.

Nem Arábia Saudita, nem MLS, nem Galatasaray, nem FC Porto, que a “ESPN” chegou a noticiar como hipótese ou pelo menos pretendente. Sergio Ramos vai mesmo voltar ao lugar em que tudo começou e onde foi tantas vezes infeliz. O menino-prodígio de Sevilha, amado até ao dia em que aceitou sair para o Real Madrid em setembro de 2005 – a inscrição entrou nos últimos 10 minutos do derradeiro dia de mercado –, vai regressar a casa aos 37 anos para ajudar o atual campeão da Liga Europa que está na última posição da La Liga, com três derrotas em outros tantos jogos.

“Voltar a casa é sempre uma alegria tremenda”, reconheceu à chegada a Sevilha. “Não fazia sentido ir jogar para outro lado sem passar por aqui. Acho que é uma dívida que tenho, com o meu avô, com o meu pai, com o sevillismo, com Puerta e com muitas coisas que significaram muito. Creio que era o momento.” Antonio Puerta, um futebolista do Sevilha e alguém que nasceu a alguns metros do estádio do clube, morreu tragicamente em 2007, depois de uma paragem cerebral.

Foram 18 anos longe de Sevilha e 16 com a farda imponente e imaculada do Real Madrid. A cada viagem ao Ramón Sánchez Pizjuán, os ouvidos do defesa absorviam assobios e insultos. A certa altura, o futebolista mostrou-se incomodado, afinal aquela gente recebia outros ex-jogadores “como se fossem deuses”, assim confessou a dor, pensando em Rakitic e Dani Alves. O homem que ganharia cinco La Ligas e quatro Champions no Bernabéu responsabilizaria José María del Nido, o presidente do Sevilha aquando da sua saída.

O escritor Antonio Agredano tentou, nas páginas do “El Mundo”, em janeiro de 2017, explicar e descascar as camadas do desamor da afición do clube andaluz em relação a Ramos: “Encontrar um motivo único é inventar um relato, uma ficção jornalística. Há a quem doa o seu presente madridista, há quem não esqueça a sua celebração efusiva na Supertaça, há quem tenha ficado com as tíbias explicações que deu Del Nido depois da saída, há quem assobie porque outros assobiam, há quem assobie porque simplesmente é um rival e ao rival nem água, nem sabonete. Esse labirinto de emoções da bancada, a que Ramos já deveria estar habituado, tem de ser percorrido a cada jogo. E há que sair dele com dignidade e firmeza.”

Talvez seja assim. O que é certo é que Sergio Ramos, que abandonou o PSG no verão depois de duas épocas tudo menos deslumbrantes, regressa ali, ao Sánchez Pizjuán, para corrigir o seu desalentado coração e transformar os assobios do povo em gritos de admiração, mas também para preencher as fissuras de histórias de tempos idos e por sarar.

O desfecho deste capítulo é, apesar de tudo, surpreendente. De acordo com a “ESPN”, o presidente do clube, Pepe Castro, disse há um mês que “nunca foi hipótese” tal cenário, estranhamente admitindo até que o internacional espanhol tinha sido oferecido “diretamente e indiretamente”. Porém, tal como fontes próximas do processo disseram ao “El País”, o futebol dá muitas voltas: “O Sergio necessita do Sevilha e o Sevilha necessita do Sergio.”

Mas há ainda outro lado desta história. Resistindo aos milhões sem fim da Arábia Saudita, que continua a construir o seu edifício de sportswashing, para que em vez de migrantes africanos assassinados nas fronteiras (denúncia da Human Rights Watch) se fale em Cristiano Ronaldo, Neymar ou numa suposta tremenda e pujante liga de futebol, Sergio Ramos, 180 vezes internacional por Espanha, coloca um tijolo no muro que ainda vai isolando os que acreditam em sentimentalismos nesta modalidade.

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A 1ª página da marca a 4 de setembro de 2023

Quando saiu do Sevilha, o defesa tinha apenas 19 anos, o cabelo comprido e, carote mas beneficiando da venda de Michael Owen ao Newcastle, transformou-se no quinto reforço dos merengues, depois de Pablo Garcia, Carlos Diogo, Júlio Baptista e Robinho, num plantel onde pontificavam Zinedine Zidane, David Beckham, Roberto Carlos, Ronaldo e Raúl González. Aquela opção da mudança para o Santiago Bernabéu não lhe correu nada mal: 671 jogos (101 golos), 22 troféus e as já badaladas quatro Champions, uma delas graças a um golo dele, que manteve o Real vivo em Lisboa perante o eterno rival da cidade.

Esta segunda-feira, a primeira página da “Marca” é um atentado de doçura apontado à alma dos nostálgicos. A fotografia é a de um jovem Sergio Ramos, com o polegar direito para cima, a vestimenta branca do Sevilha e os pés enfiados numas condizentes Total 90. “Com a ilusão de um menino”, diz a manchete prometedora. Celebra-se, como não podia deixar de ser, um regresso a casa, algo que cai tão bem para aqueles que inocentemente ainda acreditam que se mantém vivo o lado sentimental do futebol.

Com este regresso que pode ser levado adiante fora das janelas do mercado porque o jogador está livre, Sergio Ramos reivindicará uma espécie de déjà vu que não toca assim a tanta gente: viver um quase, quase sentimento de primeira estreia pelo clube dos seus sonhos. O debute dos debutes aconteceu no dia 1 de fevereiro de 2004, num Deportivo-Sevilha, resolvido por Diego Tristán para os da Corunha, com Jorge Andrade em campo. Ramos entrou, aos 64 minutos,



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